Nos últimos anos, a mulher vem quebrando barreiras e conquistando seu espaço em atividades que antes eram vistas essencialmente como masculinas. Um dos setores em que mais cresce o espaço feminino é o esportivo, sejam atletas, árbitras, comentaristas ou narradoras, em especial, no futebol, que ainda carrega um espírito tradicionalmente machista.
Um crescente número, embora ainda muito aquém do ideal, já mostra que a mulher terá mais lugar na sociedade sim. O que não terá lugar é o preconceito e a exclusividade de gênero para a maioria das coisas. E esses são desafios que mulheres como Daiane Bellaver Pereira e Roseliane Tibes Souza, árbitras de futsal, têm enfrentado no início da carreira e terão de superar para conquistarem seus sonhos.
Sonhar no esporte e traçar metas são coisas de atleta, mas é também coisa de técnico, de árbitro, de jornalista, ou de qualquer profissional deste ou de outro setor. Os olhos voltados para o objeto principal do esporte, que é o atleta, muitas vezes faz passar despercebidos outros agentes não menos importantes e não menos sonhadores ou dedicados a uma carreira específica.
Muitos atletas passam por eventos de base e se destacam em eventos maiores como os Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc), passando pela esfera nacional e internacional. Isso não é diferente com os profissionais de arbitragem esportiva. Há um caminho a ser percorrido por eles, que vai desde o amador, nas ligas de suas cidades, passando pelas federações, confederações e federações internacionais.
E como todo árbitro, Daiane e Rose sonham em chegar ao mais alto degrau da arbitragem. Para isso, elas trabalham duro: treinam diariamente, estudam e praticam ao máximo, além de investir na carreira com acompanhamento médico e nutricionista. Ambas começaram atuando como jogadoras. Daiana, com mais experiência, passou por equipes como Kindermann, Chapecoense, Maringá e Nacional Gás, de Fortaleza. Além disso, tanto Daiana quanto Rose jogaram nos Jasc. Agora, arbitrando na etapa regional, estão na expectativa de chegar ao estadual, que acontece de 1º a 10 de novembro em Indaial, Timbó e Pomerode.
“Quanto mais atuarmos em eventos, mais nos qualificamos, principalmente num evento como os Jasc. E as chances de crescer e a uma esfera mais alta são bem maiores”, disse Daiana, que já pertence ao quadro da Confederação Brasileira de Futebol de Salão há um ano e dois na Federação Catarinense de Futebol de Salão (FCFS), depois de atuar por oito anos como auxiliar no futebol de campo.Sua maior meta é atingir o quadro Fifa.
Daiane Bellaver Pereira é árbitra do quadro da CBFS Foto: Heron Queiroz
Daiane e Rose atuaram na partida de futsal masculino entre Piçarras e São Francisco do Sul, na etapa regional dos Jasc, que terminou 6 a 3 para São Chico. Elas destacaram a importância de atuarem também no masculino. “É um erro achar que, porque somos mulheres, devemos atuar somente em jogos femininos. Atuamos com as mesmas regras e somos qualificadas para atuar em qualquer jogo de futsal. A mulher busca seu espaço e tem de ter a oportunidade de mostrar que é capaz”, disse Roseliane, árbitra do quadro da FCFS, natural de Canoinhas.
Roseliane Tibes Souza é árbitra do quadro da FCFS Foto: Heron Queiroz
Elas avaliam que, além do difícil caminho para alcançar os quadros mais elevados da arbitragem, a mulher se depara com mais dificuldades. “Nossa margem de erro deve ser sempre menor do que a dos homens”, observou Rose. “Se um homem erra, ele cometeu uma falha; se a mulher erra, é uma despreparada. Por trás desse uniforme tem um ser humano”, completou Daiane.
E não apenas mostrar capacidade num ambiente machista torna a rotina de uma árbitra mais árdua. Ela precisa quebrar todo tipo de preconceito contra mulher, como tentativas de fragilizá-la e atingi-la emocionalmente para desestabilizar numa partida, assim os assédios de todos os tipos que acontecem frequentemente.
O quadro da FCFS conta atualmente com um pouco mais de 100 árbitros, dos quais, 10 são mulheres, ou seja, uma proporção inferior a 10%. Mas, apesar disso, a dupla de árbitras tem arbitrado em jogos com importância cada vez mais elevada, chegando, nos mais recentes eventos da Fesporte, a apitar em finais de futsal, com atuações com destaques bastante positivos, mostrando que lugar de mulher pode ser também na quadra, com apito e com toda autoridade que merece.
Texto: Heron Queiroz/Ascom/Fesporte